Um ano e tal
(parece mesmo que foi ontem) depois de me ter mudado para a Alemanha, aqui deixo uma reflexão de tudo aquilo que me apercebi, quando vivemos longe
de casa.
A partir do
momento em que decidimos partir, a nossa vida torna-se um misto de
emoções, de aprendizagem e de improvisação. Novos lugares, novos costumes, novos
desafios, novas
pessoas... A sensação no inicio é angustiante, mas a partir do momento em
que saímos da nossa zona de conforto achamos que podemos fazer qualquer coisa.
Quando perguntam
como estão as coisas, é difícil encontrar palavras. Na maior parte das
vezes tens que
morder a língua, porque a cada conversa lembras-te de mil e uma histórias
e não queres
parecer pretensioso ou sobrecarregar os outros com histórias de guerra "do
teu outro
país."
A nossa vida
mudou a um ritmo
frenético, mas é surpreendente ver quando vamos a casa que quase tudo continua no ritmo habitual. Os nossos amigos e família continuam com o malabarismo das responsabilidades diárias e no fundo é estranho
perceber que a
vida não pára.
Dou por mim a
ter dois telemóveis (um daqui e outro português), dois pares de chaves, dois
cartões de descontos no supermercado, duas contas bancárias... e quando nos apercebemos,
estamos a baralhar tudo e no Pingo Doce entregamos o cartão de descontos do
supermercado alemão e já temos a menina da caixa a bufar para nós.
Deixamos de
falar uma linguagem em particular. No trabalho falo a maior parte do tempo inglês, no dia a dia falo alemão e quando chego
a casa e ligo para a minha mãe estou
a falar português. Confuso... até porque não domino 100% o alemão e quando as
palavras falham (em qualquer língua) lá me
consigo safar com a linguagem gestual!
Tornamo-nos
turistas na nossa própria cidade.
Aquele monumento
ou local que nunca tinha visitado vai-se juntar à lista de sítios a visitar
quando for a
casa. E quando os nossos colegas de trabalho referem que querem ir uns dias
a Portugal e
pedem alguma recomendação, custa escolher: por mim viam tudo!
Nostalgia
aparece no momento mais inesperado.
Na comida, numa
música, num cheiro. Há dias em que a saudade
é uma palavra que dói, que as lágrimas teimam em cair e não me deixam
olhar para a vida de forma objectiva e
racional.
Faz-nos falta
detalhes que nunca imaginámos, e daríamos qualquer coisa para sermos transportados a
um momento ou a um lugar. Ou simplesmente para compartilhar o
sentimento com
alguém que nos entenda...
Aprendi a ser
paciente e a pedir ajuda.
Noutro país, a
tarefa mais simples pode-se tornar um desafio. Encontrar a palavra certa
(especialmente
para quem ainda não domina a língua), enviar uma encomenda, conhecer
a rede de
transportes ou ir ao banco fazer um simples depósito... Há sempre
momentos de desespero, mas nessa altura e com a paciência que nunca tiveste percebes que pedir
ajuda não é
apenas inevitável, mas muito saudável.
Afinal
a nossa vida cabe numa mala (ou duas vá)! Quase
tudo o que temos em casa e que tanto estimamos afinal não nos faz assim tanta falta, porque
fomos obrigados a escolher na hora de partir. Alguma roupa (porque o resto
até podemos comprar),
memórias, muitas, muitas fotografia e claro um objecto que
fizemos questão de trazer da nossa casa é tudo o que nos acompanha.
Muitas pessoas
dizem que somos corajosos, porque elas também querem ir embora, mas não se
atrevem. E nós, apesar do medo concluímos que afinal somos corajosos sim... não é fácil deixar para trás a nossa casa, o nossa família e o nosso pais. Custa,
custa muito. Mas as pequenas vitórias valem o esforço. Isso, o salário ao fim
do mês, as condições que o novo pais nos oferece e acima de tudo a possibilidade de conhecer novos lugares, afinal fica quase tudo aqui ao lado!
Quando vim
embora de Portugal todos me disseram que esta experiência me iria mudar. Eu dizia sempre que não, que ia continuar a mesma pessoa de sempre. Mas afinal...
a verdade é que mudou.
9 comentários:
Acho que é mais a adaptação, é mais uma prova que nos conseguimos adaptar seja ao que for :)
Minha Cacauzinha, és muito corajosa sim. Muito. Eu, acredita, não conseguia. Tenho muito orgulho em ser tua amiga.
Que saudades dos teus posts! :)
Tenho que confessar que não sei se teria a tua coragem em deixar tudo para trás e enfrentar um desafio desses. Acredito que não seja nada fácil e, estar longe da família então...
Fico feliz por saber que, apesar de tudo, te adaptaste bem, ultrapassaste os obstáculos e aprendeste a gerir os sentimentos.
Que continues a ter essa força... E que sejas feliz, sempre!
Beijinhos
Tal e qual (tirando a parte do falar alemão ahahah) mas isto podia ter sido escrito por mim. Especialmente a parte em que dizes "Os nossos amigos e família continuam com o malabarismo das responsabilidades diárias e no fundo é estranho perceber que a vida não pára", é tãooooo isto!!!!!
Queria tanto ter essa coragem, se sair...mas ainda não consigo.
és mesmo corajosa! Já ando há alguns anos a ponderar ir para fora... mas não considero ter essa coragem! Admiro-te e desejo-te o melhor!! Muita força!
um beijo
É mesmo preciso uma certa dose de coragem para largar tudo, a nossa rede de segurança, e partir à aventura, num novo país, nova língua, novos costumes. Tenho alguns amigos nessa situação.
Força para os primeiros tempos que são sempre os mais difíceis.
Coragem, sem dúvida que é exatamente isso que me falta para ir embora de Portugal e começar a viver verdadeiramente.
Adorei ler o teu texto e conhecer a tua história, quero fazer o mesmo, e quero mais e mais, a cada dia que passa.
Obrigada a todos pelas palavras de incentivo.
E para quem pensa/sonha fazer o mesmo aconselho que não venham ao acaso, mas sim com um plano bem estruturado. E se possível já com um contrato de trabalho.
um beijinho*
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