sexta-feira, 10 de abril de 2015

Viver no estrangeiro



Um ano e tal (parece mesmo que foi ontem) depois de me ter mudado para a Alemanha, aqui deixo uma reflexão de tudo aquilo que me apercebi, quando vivemos longe de casa.  

A partir do momento em que decidimos partir, a nossa vida torna-se um misto de emoções, de aprendizagem e de improvisação. Novos lugares, novos costumes, novos desafios, novas pessoas... A sensação no inicio é angustiante, mas a partir do momento em que saímos da nossa zona de conforto achamos que podemos fazer qualquer coisa.

Quando perguntam como estão as coisas, é difícil encontrar palavras. Na maior parte das vezes tens que morder a língua, porque a cada conversa lembras-te de mil e uma histórias e não queres parecer pretensioso ou sobrecarregar os outros com histórias de guerra "do teu outro país."

A nossa vida mudou a um ritmo frenético, mas é surpreendente ver quando vamos a casa que quase tudo continua no ritmo habitual. Os nossos amigos e família continuam com o malabarismo das responsabilidades diárias e no fundo é estranho perceber que a vida não pára.

Dou por mim a ter dois telemóveis (um daqui e outro português), dois pares de chaves, dois cartões de descontos no supermercado, duas contas bancárias... e quando nos apercebemos, estamos a baralhar tudo e no Pingo Doce entregamos o cartão de descontos do supermercado alemão e já temos a menina da caixa a bufar para nós.

Deixamos de falar uma linguagem em particular. No trabalho falo a maior parte do tempo inglês, no dia a dia falo alemão e quando chego a casa e ligo para a minha mãe estou a falar português. Confuso... até porque não domino 100% o alemão e quando as palavras falham (em qualquer língua) lá me consigo safar com a linguagem gestual!

Tornamo-nos turistas na nossa própria cidade.
Aquele monumento ou local que nunca tinha visitado vai-se juntar à lista de sítios a visitar quando for a casa. E quando os nossos colegas de trabalho referem que querem ir uns dias a Portugal e pedem alguma recomendação, custa escolher: por mim viam tudo!

Nostalgia aparece no momento mais inesperado.
Na comida, numa música, num cheiro. Há dias em que a saudade é uma palavra que dói, que as lágrimas teimam em cair e não me deixam olhar para a vida de forma objectiva e racional.
Faz-nos falta detalhes que nunca imaginámos, e daríamos qualquer coisa para sermos transportados a um momento ou a um lugar. Ou simplesmente para compartilhar o sentimento com alguém que nos entenda...

Aprendi a ser paciente e a pedir ajuda.
Noutro país, a tarefa mais simples pode-se tornar um desafio. Encontrar a palavra certa (especialmente para quem ainda não domina a língua), enviar uma encomenda, conhecer a rede de transportes ou ir ao banco fazer um simples depósito...  Há sempre momentos de desespero, mas nessa altura e com a paciência que nunca tiveste percebes que pedir
ajuda não é apenas inevitável, mas muito saudável.
           
Afinal a nossa vida cabe numa mala (ou duas vá)! Quase tudo o que temos em casa e que tanto estimamos afinal não nos faz assim tanta falta, porque fomos obrigados a escolher na hora de partir. Alguma roupa (porque o resto até podemos comprar), memórias, muitas, muitas fotografia e claro um objecto que
fizemos questão de trazer da nossa casa é tudo o que nos acompanha.

Muitas pessoas dizem que somos corajosos, porque elas também querem ir embora, mas não se atrevem. E nós, apesar do medo concluímos que afinal somos corajosos sim... não é fácil deixar para trás a nossa casa, o nossa família e o nosso pais. Custa, custa muito. Mas as pequenas vitórias valem o esforço. Isso, o salário ao fim do mês, as condições que o novo pais nos oferece e acima de tudo a possibilidade de conhecer novos lugares, afinal fica quase tudo aqui ao lado!


Quando vim embora de Portugal todos me disseram que esta experiência me iria mudar. Eu dizia sempre que não, que ia continuar a mesma pessoa de sempre. Mas afinal... a verdade é que mudou. 


9 comentários:

Unknown disse...

Acho que é mais a adaptação, é mais uma prova que nos conseguimos adaptar seja ao que for :)

Anônimo disse...

Minha Cacauzinha, és muito corajosa sim. Muito. Eu, acredita, não conseguia. Tenho muito orgulho em ser tua amiga.

Anônimo disse...

Que saudades dos teus posts! :)

Tenho que confessar que não sei se teria a tua coragem em deixar tudo para trás e enfrentar um desafio desses. Acredito que não seja nada fácil e, estar longe da família então...

Fico feliz por saber que, apesar de tudo, te adaptaste bem, ultrapassaste os obstáculos e aprendeste a gerir os sentimentos.

Que continues a ter essa força... E que sejas feliz, sempre!

Beijinhos

Karina sem acento disse...

Tal e qual (tirando a parte do falar alemão ahahah) mas isto podia ter sido escrito por mim. Especialmente a parte em que dizes "Os nossos amigos e família continuam com o malabarismo das responsabilidades diárias e no fundo é estranho perceber que a vida não pára", é tãooooo isto!!!!!

Maria Paciência disse...

Queria tanto ter essa coragem, se sair...mas ainda não consigo.

Ana Catarina disse...

és mesmo corajosa! Já ando há alguns anos a ponderar ir para fora... mas não considero ter essa coragem! Admiro-te e desejo-te o melhor!! Muita força!
um beijo

C*inderela disse...

É mesmo preciso uma certa dose de coragem para largar tudo, a nossa rede de segurança, e partir à aventura, num novo país, nova língua, novos costumes. Tenho alguns amigos nessa situação.

Força para os primeiros tempos que são sempre os mais difíceis.

Green disse...

Coragem, sem dúvida que é exatamente isso que me falta para ir embora de Portugal e começar a viver verdadeiramente.
Adorei ler o teu texto e conhecer a tua história, quero fazer o mesmo, e quero mais e mais, a cada dia que passa.

Cacau disse...

Obrigada a todos pelas palavras de incentivo.

E para quem pensa/sonha fazer o mesmo aconselho que não venham ao acaso, mas sim com um plano bem estruturado. E se possível já com um contrato de trabalho.

um beijinho*